Ontem, feriado, encontrei amigos e celebrei o dia maravilhoso que se descortinou a todos os cariocas. Foi dia de encontrar alguns fantasmas e de fazer uma análise pessoal - mesmo que à revelia e inesperadamente. Segue um relato pessoalíssimo que seria feito à minha analista se ainda tivesse uma.
Não sou um exemplo de pessoa que guarda amigos e que é 100% uma coisa. Muitas vezes dispensei amigos por preguiça de manter a amizade. E sempre fui assim. Não que os considere dispensáveis, lamento - e muito - tê-los perdido, mas não sei como mantê-los por perto, como conciliar viver, estar com um namorado e ter esses amiguinhos/amigões. Pior para mim.
Conforme o dia de ontem acabava, pensava em como gostaria de mudar isso e ter uma personalidade mais compatível com aquilo que eu gosto, sem deixar de agregar novos valores, novos gostos, enfim, evoluir sem me anular. Pensei também em como não sei manter laços familiares estreitos e firmes e em como tinha o hábito de adotar os gostos dos outros por medo de mostrar os meus.
Lembro de um dia, no colégio, em que entreouvi uma conversa de duas supostas amiguinhas minhas em que elas comentavam como me achavam chata. Essa palavra me persegue. E boa parte da nulidade de auto-estima que tenho deriva de me achar verdadeiramente chata, de preferir concordar com o que os outros acham de mim a admitir que os outros podem não saber tanto assim de mim.
Passei muito tempo da minha vida tentando ser o que meu pais esperavam de mim (o que até hoje faço em alguns momentos). Se meus pais diziam que ficar lendo e não ser sociável era muito prejudicial para mim, me forçava a ser sociável e aniquilava um pouco minhas características próprias para ser o que esperavam de mim ao invés de respeitar minha individualidade (de ser anti-social, de não gostar de parecer feliz o tempo inteiro..) e encontrar um meio gostoso e confortável para socializar...
Aprendi a detestar tudo o que era. A me achar essencialmente chata. Lia no colégio ou na cama, escondida. Fingia ser uma outra pessoa para diferentes grupos. Fui a nerd com meus amigos nerds. Patricinha com o pessoal mais afetado pelas aparências. Fui me dividindo em partes e transparecia um pouco de mim em cada uma dessas faces, mas nunca eu mesma em todas elas.
Passei mais tempo ainda absorvendo a personalidade dos meus ex-namorados quando namorávamos. Aliás, meu namoro com Daniel pode não ter durado não só pelo meu medo de amar, de me entregar de corpo e alma (e como admiro a Flá por isso) a alguém, como também porque ele queria saber quem eu era, gostava de quem eu era e achava interessante eu ser assim. E gostei muito desse menino... muito mesmo... Talvez pelo mesmo motivo tenha rejeitado outra pessoa tão veementemente no passado.
Com o Rogério, pude tentar ser a patricinha que achava que meus pais gostariam que fosse: loirinha, afetadinha e, de quebra, com um namoradinho saído de enlatados americanos, que poderia ser tudo o que mamãe sonhou para mim. E celebrei a felicidade que era ser o que esperam de você. Celebrei de corpo e alma nossa vida a dois.
Infelizmente eu não era eu. Não que eu não gostasse de tudo aquilo ou que tivesse consciência de que tinha me aniquilado, mas sempre soou errado estar com ele. Como se a gente pudesse aprender a amar alguém, amei Rogério.
Rejeitá-lo foi mais difícil do que pensava. Fiquei dividida entre ser o ideal dos outros, de quem achava que sempre saberia mais e melhor que eu, ou aceitar, enfim, que nunca seria aquela pessoa, que seria infeliz e depressiva ao lado dele. É óbvio que o destino deu uma ajudinha. Essa fase foi meu divisor-de-águas com relação a meu pai.
E eis que aparece Raphael. Ele, que gostava de (quase) tudo o que eu gostava, que me admirava no trabalho, que me ligava e conversava por horas comigo, ele, a quem pude enfim contar que tremia quando me sentia vulnerável, quando contava alguma coisa muito particular.
Ele, a quem quis me entregar porque parecia seguro, não era meu porto-seguro. Na verdade era sim, no sentido em que era seguro me entregar a ele, que admirava em mim o ideal dele de chefinha gostosa e pegável. Óbviamente a ele, que nunca poderia ser meu porque nunca pôde se entregar, ser ele mesmo, ficar à vontade comigo. Nosso problema: quando vi inconscientemente que ele não era aberto, me abri. Logo com ele, que queria a fantasia!
E o fantasma de ser quem eu era me assombrava de novo. EU fui rejeitada de novo. Mas agora sabia qual era a pele que me deixava mais confortável, estava satisfeita comigo mesma. Mas não tinha como me aproximar de alguém de novo. Isso nunca mais.
Não queria amar e ser amada. Queria amar sem ser amada ou ser amada sem amar. E um amigo apareceu. Ele era perfeito! Inacessível, amigo, um tanto promíscuo e que gostava de mim como eu precisava ser gostada naquele momento. Apreciada como ser humano e desejada como um pedaço de carne. Como estava confortável naquela situação! Supria minhas carências sazonalmente e eu podia ser eu e outra pessoa ao mesmo tempo...
Mas a única coisa que não poderia acontecer aconteceu: ao invés de viver uma relação promíscua, fugaz e descompromissada, que nunca terminaria em brigas ou desentendimentos já que sem futuro desde seu cerne, terminou estranha, com um se sentindo traído pelo outro. Eu por achar que ele traiu nosso código de honra ao revelar nossa "relação": agora ele não era um escape, uma viagem segura, erámos dois amigos que se pegavam e tudo ganharia um rótulo que nunca quis, não queria, não podia...
Ele, por seu lado, queria SE definir e buscava se encontrar mais que tudo... Eu não servia mais a ele nessa busca e minha empolgação com a nossa "aventura" o deixava cada vez mais seguro que alguém sairia machucado disso tudo. E que essa pessoa seria eu.
E Diogo apareceu. E me conquistou. E me buscar passou a ser desinteressante diante de uma gama de sensações que podia viver agora. Eu podia ser eu mesma com alguém sem problemas. Mas, no meio desse turbilhão de sentimentos, de descobertas, me perdi de mim mesma, entrei em depressão, e tentei me encontrar.
Não sei se deixei de ser quem eu era. Fato é que volta e meia converso com Di sobre sentir falta de fazer as coisas que eu gosto. O dia de ontem foi um dia só meu. E aquele amigo pôs em pratos limpos o que ele pensava daquela época - e como eu não sabia de tanta coisa! - e como ele estava feliz em me encontrar como eu mesma nesse dia. Para ele, eu tinha me abandonado novamente quando comecei com o Di.
Se ele está certo eu não sei. É verdade que me sinto anulada pela personalidade extremamente egoísta dele muitas vezes. Estamos trabalhando nisso. Como um par. É verdade que tenho inclinação a me travestir de outros para me sentir mais confortável. Sei que não confio cegamente em mim - pelo contrário! Não sei se um dia vou confiar e concluir, quem sabe, que minha constante sou eu mesma...
Não sou um exemplo de pessoa que guarda amigos e que é 100% uma coisa. Muitas vezes dispensei amigos por preguiça de manter a amizade. E sempre fui assim. Não que os considere dispensáveis, lamento - e muito - tê-los perdido, mas não sei como mantê-los por perto, como conciliar viver, estar com um namorado e ter esses amiguinhos/amigões. Pior para mim.
Conforme o dia de ontem acabava, pensava em como gostaria de mudar isso e ter uma personalidade mais compatível com aquilo que eu gosto, sem deixar de agregar novos valores, novos gostos, enfim, evoluir sem me anular. Pensei também em como não sei manter laços familiares estreitos e firmes e em como tinha o hábito de adotar os gostos dos outros por medo de mostrar os meus.
Lembro de um dia, no colégio, em que entreouvi uma conversa de duas supostas amiguinhas minhas em que elas comentavam como me achavam chata. Essa palavra me persegue. E boa parte da nulidade de auto-estima que tenho deriva de me achar verdadeiramente chata, de preferir concordar com o que os outros acham de mim a admitir que os outros podem não saber tanto assim de mim.
Passei muito tempo da minha vida tentando ser o que meu pais esperavam de mim (o que até hoje faço em alguns momentos). Se meus pais diziam que ficar lendo e não ser sociável era muito prejudicial para mim, me forçava a ser sociável e aniquilava um pouco minhas características próprias para ser o que esperavam de mim ao invés de respeitar minha individualidade (de ser anti-social, de não gostar de parecer feliz o tempo inteiro..) e encontrar um meio gostoso e confortável para socializar...
Aprendi a detestar tudo o que era. A me achar essencialmente chata. Lia no colégio ou na cama, escondida. Fingia ser uma outra pessoa para diferentes grupos. Fui a nerd com meus amigos nerds. Patricinha com o pessoal mais afetado pelas aparências. Fui me dividindo em partes e transparecia um pouco de mim em cada uma dessas faces, mas nunca eu mesma em todas elas.
Passei mais tempo ainda absorvendo a personalidade dos meus ex-namorados quando namorávamos. Aliás, meu namoro com Daniel pode não ter durado não só pelo meu medo de amar, de me entregar de corpo e alma (e como admiro a Flá por isso) a alguém, como também porque ele queria saber quem eu era, gostava de quem eu era e achava interessante eu ser assim. E gostei muito desse menino... muito mesmo... Talvez pelo mesmo motivo tenha rejeitado outra pessoa tão veementemente no passado.
Com o Rogério, pude tentar ser a patricinha que achava que meus pais gostariam que fosse: loirinha, afetadinha e, de quebra, com um namoradinho saído de enlatados americanos, que poderia ser tudo o que mamãe sonhou para mim. E celebrei a felicidade que era ser o que esperam de você. Celebrei de corpo e alma nossa vida a dois.
Infelizmente eu não era eu. Não que eu não gostasse de tudo aquilo ou que tivesse consciência de que tinha me aniquilado, mas sempre soou errado estar com ele. Como se a gente pudesse aprender a amar alguém, amei Rogério.
Rejeitá-lo foi mais difícil do que pensava. Fiquei dividida entre ser o ideal dos outros, de quem achava que sempre saberia mais e melhor que eu, ou aceitar, enfim, que nunca seria aquela pessoa, que seria infeliz e depressiva ao lado dele. É óbvio que o destino deu uma ajudinha. Essa fase foi meu divisor-de-águas com relação a meu pai.
E eis que aparece Raphael. Ele, que gostava de (quase) tudo o que eu gostava, que me admirava no trabalho, que me ligava e conversava por horas comigo, ele, a quem pude enfim contar que tremia quando me sentia vulnerável, quando contava alguma coisa muito particular.
Ele, a quem quis me entregar porque parecia seguro, não era meu porto-seguro. Na verdade era sim, no sentido em que era seguro me entregar a ele, que admirava em mim o ideal dele de chefinha gostosa e pegável. Óbviamente a ele, que nunca poderia ser meu porque nunca pôde se entregar, ser ele mesmo, ficar à vontade comigo. Nosso problema: quando vi inconscientemente que ele não era aberto, me abri. Logo com ele, que queria a fantasia!
E o fantasma de ser quem eu era me assombrava de novo. EU fui rejeitada de novo. Mas agora sabia qual era a pele que me deixava mais confortável, estava satisfeita comigo mesma. Mas não tinha como me aproximar de alguém de novo. Isso nunca mais.
Não queria amar e ser amada. Queria amar sem ser amada ou ser amada sem amar. E um amigo apareceu. Ele era perfeito! Inacessível, amigo, um tanto promíscuo e que gostava de mim como eu precisava ser gostada naquele momento. Apreciada como ser humano e desejada como um pedaço de carne. Como estava confortável naquela situação! Supria minhas carências sazonalmente e eu podia ser eu e outra pessoa ao mesmo tempo...
Mas a única coisa que não poderia acontecer aconteceu: ao invés de viver uma relação promíscua, fugaz e descompromissada, que nunca terminaria em brigas ou desentendimentos já que sem futuro desde seu cerne, terminou estranha, com um se sentindo traído pelo outro. Eu por achar que ele traiu nosso código de honra ao revelar nossa "relação": agora ele não era um escape, uma viagem segura, erámos dois amigos que se pegavam e tudo ganharia um rótulo que nunca quis, não queria, não podia...
Ele, por seu lado, queria SE definir e buscava se encontrar mais que tudo... Eu não servia mais a ele nessa busca e minha empolgação com a nossa "aventura" o deixava cada vez mais seguro que alguém sairia machucado disso tudo. E que essa pessoa seria eu.
E Diogo apareceu. E me conquistou. E me buscar passou a ser desinteressante diante de uma gama de sensações que podia viver agora. Eu podia ser eu mesma com alguém sem problemas. Mas, no meio desse turbilhão de sentimentos, de descobertas, me perdi de mim mesma, entrei em depressão, e tentei me encontrar.
Não sei se deixei de ser quem eu era. Fato é que volta e meia converso com Di sobre sentir falta de fazer as coisas que eu gosto. O dia de ontem foi um dia só meu. E aquele amigo pôs em pratos limpos o que ele pensava daquela época - e como eu não sabia de tanta coisa! - e como ele estava feliz em me encontrar como eu mesma nesse dia. Para ele, eu tinha me abandonado novamente quando comecei com o Di.
Se ele está certo eu não sei. É verdade que me sinto anulada pela personalidade extremamente egoísta dele muitas vezes. Estamos trabalhando nisso. Como um par. É verdade que tenho inclinação a me travestir de outros para me sentir mais confortável. Sei que não confio cegamente em mim - pelo contrário! Não sei se um dia vou confiar e concluir, quem sabe, que minha constante sou eu mesma...
2 comentários:
hm. Quase interessante...
cunhadets, ( vc sempre vai ser minah cunhadets..)
adorei para variar.. me identifico em algumas partes e consigo enxergar que as vezes oq nos parece ser estranho, somos nós mulheres pensantes demais, analiticas demais, neuroticas de mais. to tentando aprender que tudo isso tb faz parte de mim. e que tudo bem sabe? se permitir e se analisar menos. as vezes queria pensar menos ser burra mesmo. saco! la to eu já pensando demais.. cheeega!!!
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